segunda-feira, 9 de julho de 2012

#Ar

Amanheceu dia nove de julho de dois mil e doze, com a mesma manhã ensolarada - e traiçoeira - dos trezentos e sessenta e cinco dias atrás. Os números estão por volta de oito mil setecentas e sessenta e seis horas passadas. Neste momento, era recém-nascida o rascunho da nossa história.
Eu a escrevi com minha melhor caligrafia. Foram três páginas produzidas na madrugada anterior; Busquei traduzir fielmente tudo o que passava-se no roteiro da minha vida sob a sua direção, naqueles meses em que você invadiu meus dias, sem pedir licença.
Eu tinha o gosto do seu beijo nos lábios e o coração nas mãos. Nunca poderia ter imaginado que eu estaria ali. Nunca poderia imaginar que hoje, eu estaria aqui. Eu não ousei relembrar promessas, mas o teu sorriso, é inevitável. Ele me assombra sem permissão, sem fazer esforço algum. São noites mal-dormidas, dias vazios e uma enchente de saudade que clama, que pede para ouvir sua voz cansada.
Eram inocentes, os meus olhos e os teus. Éramos dois, mas a soma deu um. Não sei se lhe acomete, mesmo que aos pormenores, as lembranças que transcorreram os últimos doze meses de nossas vidas. Percorri o infinito para ser o melhor que podíamos, mas eu me perdi. Assim, nas tuas palavras, nas tuas promessas, no óbito atestado pelo seu amor.
Às vezes te olho menina, às vezes te olho mulher. Tão frágil aquele olhar de quem pede redenção. Tão forte o sorriso sonso, pintado por detrás da armadura que te esconde do mundo, te esconde de mim. Esta é só mais uma, ou talvez a última página, das quatrocentas que compõe a obra por nós planejada, com este mesmo nome. Tem capa, folha de rosto, sumário, introdução, um conteúdo em construção, e por fim, epílogo.
Só faltou você. 
Hoje eu percebo, nós fomos metades mal-dividas que encaixam-se melhor do que todo o resto. Somos par, somos ímpar. A inconstância é o nosso defeito mais bonito. Corações incompreendidos, não mais convergentes, pois não falamos mais a mesma língua. Nos quinhentos e vinte e cinco mil novecentos e sessenta minutos que sucederam o teu sim, restam agora, para nós, apenas sinais.

"Hoje, acordei sem você

E eu só percebi, quando eu senti falta de mim.
Pois existem coisas que eu queria mais
E tantas coisas pra deixar pra trás
Eu queria tanto te ouvir dizer agora,
Então diga."

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