sábado, 21 de julho de 2012

#Escolha (parte II)

Quase três da madrugada, completamente anestesiada pela apatia de um inverno rigoroso. O som é silêncio mixado com jazz, r&b e soul. Os pensamentos, você. O sentimento, vazio. A calmaria das primeiras horas do dia mostra-se sempre o melhor momento para a desordem das minhas palavras.
Perco-me em músicas que traduzem corações. Desde letra à melodia, das agudas do teclado aos graves do baixo. Desde rimas até refrões, eu me perco em versos que chamam seu nome. Eu constantemente traio meu orgulho nos momentos de desatenção. Percebo-me aqui, poetizando você. Nos segundos antes de adormecer, um bombardeio de lembranças, uma dose de realidade.
As paredes que me cercam guardam lágrimas decrescentes de uma saudade que escorre pelos olhos. Guardam os acordes de um violão cansado de respirar você. O tempo expira certeza e eu não sei mais lidar com todo esse ao redor que você criou para tirar minha paz. As negativas hoje prescrevem receitas com fármacos impossíveis de encontrar.
O vício por mais faz paradoxo com o luto de sentir. São vontades opostas que tornam difícil discernir o que fazer a seguir. A inconstância do agora nos faz querer agarrar com as duas mãos tudo o que já passou. Não nos é cabível a consciência de eternizar o tempo, pois ele corre disparado sem ao menos pedir licença. Mas eu sei, e você - apesar de negar - sabe também. Somos livres para fazermos nossas escolhas, mas seremos sempre prisioneiros das consequências. 
Quase quatro da madrugada, e uma voz pergunta calada aonde está você. Talvez um dia eu soube, talvez um dia eu saiba, talvez eu nunca cheguei a saber. Nestes hiatos de tempo entre a construção de um parágrafo e outro, eu desvirtuo pensamentos em diversos rumos que dão origem às próximas frases. Por vezes tento fidelizar minhas palavras ao coração, em outras apenas aprecio a mudez das minhas reflexões. Sinto-me curiosamente diferente a cada novo texto redigido. Você está se tornando uma realidade cada vez mais distante, mais difícil de enxergar. Não é cura, mas é alívio. E talvez, a verdade que dói pronunciar, é que eu nem espero mais um sinal teu. 

"O tempo não para, só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo." - Mário Quintana

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