domingo, 9 de setembro de 2012

#9/9

Com olhos ansiosos, esquadrinhei o espaço. Uma pausa, um momento. Matemática irracional; Tantas pessoas, e a soma dava zero. Era a partir dali que nós fugíamos, inúmeras tardes e noites clandestinas, um infinito particular. São lembranças que nunca vão se apagar. 
Confesso que procurei em tantos rostos vazios - que por mim passavam desavisados - a sua feição. Resultado, desatenção. Ninguém soava familiar. Entre aquelas milhares de vidas que se entrecruzavam, não havia alma singular capaz de aconchegar o vazio que enchia-me a cada novo segundo.
E então, como um lapso de obviedade, senti-me só como nunca antes. Eu era a única peça que quebrava a sintaxe da multidão. Nada ali estava diferente, mas parecia que tudo havia mudado. Eu pedia os meses atrás, sentia frio e saudade. Depois de algum tempo, permiti-me prosseguir. Eu precisava convencer-me de que o teu rosto não ia aparecer para mim, e mesmo que o fizesse, nada iria quebrar o dilúvio de acontecimentos que trouxeram-me para longe de ti. Na sua pele e na minha, está eternizado, gravado a tinta e sentimento, o infinito de nós dois.
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"Por mais que eu cante, escreva, toque não vai dar... você não vai mudar." 
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Fiz as malas, faz algumas semanas, e sentei-me em algum lugar qualquer.
Cá estou. A mercê de algum destino que cruze o meu, algo que tire da minha boca, o gosto amargo da sua ausência. Alguns olhares roubaram-me a atenção, e eu confesso que a vida sem você tornou-se mais leve e mais fácil de viver. Nestes meses sem a sua presença, percebi toda a saúde que estava escapando-me por entre os dedos, de tanto tentar consertar-lhe os erros e bebe-los em um gole só. Dói mesmo, a acepção que me orienta a uma conclusão óbvia. Eu sinto falta do que nunca existiu, ou do que apenas por vezes, existiu. 
Apaixonei-me pela imagem que você criou e depois, pouco a pouco, ousou destruir. Tentei juntar as peças, de maneira ignorante, sem saber que não havia conteúdo. Eu só não queria acreditar neste vazio, neste frio depresso que escondia-se por detrás da armadura que você vestiu. Então, eu desisti. 

Em alguma destas últimas noites, eu sonhei com você. E confesso que em sonho, não sei discernir quem me aparece, se é realidade ou idealização. Em sonho você reaparecia e anunciava outro adeus. Eu os coleciono. Sua mão acenava vestida de aliança, aquela mesma dos trezentos e noventa e seis dias atrás. Tudo era silêncio. E
u somei um sorriso. Admirei-a por alguns poucos segundos, e então dei-me conta de que éramos ali, naquela soma, conjunto e operação, 
um espelho da nossa extraordinária pequenez.

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